Centenas de clínicas no Brasil e o SUS interromperam o procedimento de iodoterapia, vital para o tratamento do câncer de tireoide, após a suspensão da produção e distribuição do iodo radioativo necessário. O motivo? Um ataque cibernético que atingiu os servidores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, o único órgão no país responsável pela importação, produção e distribuição de radiofármacos essenciais para o tratamento de diversos tipos de câncer e exames médicos.
O incidente afetou gravemente a produção de seis tipos de radiofármacos, incluindo o iodo usado no tratamento de câncer de tireoide e o lutécio, que é utilizado em tumores neuroendócrinos. Além disso, o ataque impactou a distribuição de materiais empregados em exames cintilográficos, que ajudam no diagnóstico de diversas doenças por meio de imagens geradas com o uso de material radioativo.
De acordo com a Comissão de Energia Nuclear, vinculada ao IPEN, o ataque comprometeu a base de dados responsável pela regulação da quantidade de produção e distribuição desses insumos, interrompendo o fornecimento em todo o país. Somente nesta última semana, mais de mil pacientes foram afetados pela suspensão dos procedimentos, sendo atendidos tanto por clínicas particulares quanto pelo SUS. No entanto, a Associação Nacional das Empresas de Medicina Nuclear (Anaemnalerta que o número de pessoas prejudicadas é ainda maior.
Marcos Villela Pedras, presidente da Anaemn, informou que entre 40 a 45 mil pacientes que estavam em tratamento ou agendados para iniciar os procedimentos agora enfrentam a paralisação gradual das terapias, já que o estoque de radiofármacos está prestes a vencer e novos insumos não devem chegar antes da próxima semana.
No Rio de Janeiro, o Centro Carioca de Diagnóstico e Tratamento por Imagem ainda segue com os atendimentos, mas corre o risco de suspender procedimentos a partir desta semana, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Esse apagão no fornecimento de radiofármacos revela uma vulnerabilidade crítica do setor: a dependência de um único fornecedor para a produção e distribuição desses materiais essenciais.
Os servidores do IPEN estão, neste momento, na terceira fase de recuperação dos sistemas comprometidos, trabalhando para restaurar o fornecimento. Apesar do prejuízo de três milhões de reais com o material que perdeu a radioatividade e não pôde ser distribuído, a comissão já fez solicitações para reestabelecer a produção e distribuição dos radiofármacos .